Antes de continuarmos pela parte histórica vamos esclarecer alguns pontos acerca dos povos do cavalo e do arco e da sua visão do mundo, que são importantes para entender melhor a Historia dos Khazares
Para começar eles não eram nómadas no sentido de andarem sempre de um lado para o outro sem dormir duas noites no mesmo sítio, mas sim sedentários alternantes, alternando a cada seis meses entre pastagens de montanha no outono- inverno, e pastagens de planície na primavera verão (isto é um bocado contra intuitivo mas a ideia era passar o inverno nos vales de montanhas protegido dos ventos, e na primavera seguir a agua do degelo á medida que descia para as planicies)
Normalmente cada grupo ocupava localizações muito especificas (determinado vale, a confluência de dois rios) a que voltavam ano apos ano com os rebanhos. Estes locais não eram necessariamente contíguos e até podia haver territórios de outros grupos pelo meio.
Isto faz com que o conceito de território e fronteira (E implicitamente de nacionalidade/povo) tal como nós o temos não exista para estes povos. Para eles um povo não é um conjunto de pessoas que vive num determinado território, limitado por fronteiras, mas sim quem reconhece a autoridade e proteção de um “Clan Real” de uma dinastia, se quisermos.
Quando a Historia moderna foi inventada (na segunda metade do seculo XIX) todos os nomes que apareciam (Citas, Sakas, Siung-Nu, Hunos, Avaros, Bulgar, Khazares Cumanos, Mongois, etc, etc) era tomados como sendo de povos completamente novos, etnicamente diferenciados, que migravam em vagas sucessivas ao longo de milhares de kilometros, em centenas de vagões, com manadas, guerreiros e miúdos ranhosos, em direcção á Europa.
Era uma visão dramática, romântica, mesmo épica, mas completamente impraticável do ponto de vista logístico (para dezenas de milhares de indivíduos) e impossível do ponto de vista genético, já que para isto acontecer seria necessário uma imensa pool genética na Asia Central. Já para não falar na velocidade com que os diversos “povos” se sucediam numa mesma geografia Por exemplo, em 300 anos, de 450AC a 750AC passou-se dos Hunos, aos Avaros e depois aos Bulgaros, naquilo que é hoje a Hungria e a Romenia. Muito rápidos eram aqueles vagões das migrações!)
Dai que progressivamente, na segunda metade do seculo XX, tenha surgido a teoria do Clan Real
Esta teoria postula que migrações generalizadas de povos inteiros foram raríssimas e normalmente até estão documentadas, precisamente pelo facto de serem invulgares, (Sarmatas no seculo II, Hunos no Sec III, Godos no seculo IV, Suevos e Alanos no seculo V) mas o que sucedia mais normalmente era a substituição de um Clan Real por outro (uma sucessão de Dinastias, se quisermos) com a adoção do seu nome pelos outros clans que o seguem. Assim, os Avaros não seriam mais do que os filhos e os netos dos cavaleiros de Atila, sob a governação do clan Avar e já não do clan Hun.
Imaginem que os Portugueses não têm o conceito de territorioo fixo. Que nome é que adoptariamos ao longo dos nossos 800 anos de historia (ao longo doa quais até a nossa língua e costumes se foram alterando) para nos diferenciarmos dos nossos vizinhos e rivais? Se calhar tínhamos de nos chamar pelos nomes dos reis e assim seriamos sucessivamente Afonsinos, Avistinos, Bragancinos e Republicanos. E agora imaginem que não temos escrita para complicar as coisas… Não seria fácil partir do principio que se tratavam de 4 povos diferentes que viveram sucessivamente no mesmo sitio? E no entanto eu tive um bisavô que era Brigancino…