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AJSP - Associação de Jogos de Simulação de Portugal

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Artigo - Abril 2006, por Filipe Martins


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Borodino- o Grande Reduto

7 de Setembro de 1812


Franceses: Artur Ramos/Eduardo Santos

Russos: José Lopes/Filipe Martins


Este jogo recriou o assalto dos franceses ao Grande Reduto, ou Reduto Raevsky, uma das peças-chave do dispositivo defensivo russo no campo de Borodino.


Napoleão tinha como objectivo nesta batalha obter a vitória, que ele esperava decisiva, sobre o exército russo, vitória essa que lhe tinha escapado até então.


Após um intenso bombardeamento iniciado pela manhã, Napoleão ordenou o avanço dos seus homens. Neste sector em particular, o objectivo das forças lideradas por Eugéne consistia em expulsar os russos, quer da elevação ocupada pelo reduto, quer do planalto que lhe ficava atrás. A 3ª Divisão, sob Gérard, tomaria o reduto enquanto o flanco esquerdo seria coberto pela 1ª Divisão de Morand e a cavalaria, na direita, num movimento de gancho, cortaria a retirada às forças que ocupavam o reduto e lançar-se-ia para o centro da formação inimiga no planalto na retaguarda.


Para os russos, era essencial travar ou, pelo menos, castigar ao máximo as forças invasoras com base no terreno e nas obras defensivas. Kutuzov confiou o comando desta frente ao General Raevsky, que prontamente decidiu sacrificar a 24ª Divisão de Infantaria, lançando-a à defesa do reduto. Com esta manobra, Raevsky esperava ganhar tempo, obrigando a cavalaria inimiga a abrandar passo e a expor-se ao fogo da artilharia russa, e permitindo-lhe igualmente receber os necessários reforços de cavalaria, que sabia estarem a caminho.


No início, o avanço francês foi extremamente rápido. Morand liderava o flanco esquerdo gaulês, suportado na retaguarda pela 14ª divisão de Broussier. O centro estava a cargo de Gérard com a 3ª Divisão, enquanto no flanco direito os 2º e 4º Corpos de Cavalaria, sob Caulaincout e Latour-Maubourg, constituíam a principal força de ataque com que Eugéne esperava destruir o inimigo.


A artilharia pesada posicionada no reduto, apesar de não se mostrar demasiado eficaz, foi ainda assim capaz de resistir ao primeiro assalto e de desfazer, a tiro de metralha, um dos batalhões de Gérard. A condenada 24ª Divisão, de Likhachev, avançou para cobrir ambos os lados do reduto. Surpreendida pelo rapidíssimo avanço da cavalaria gaulesa no seu lado esquerdo, formou à pressa três quadrados, dois dos quais lograram resistir prolongadamente ao vigoroso assalto da cavalaria inimiga.


No seu lado direito, sob o desapiedado fogo dos voltiguers e das colunas francesas, as linhas da 24ª cederam mais rapidamente, pelo que o remanescente (metade) da Divisão debandou para as linhas inimigas, levando o resto do tempo a tentar recuperar a sua capacidade de combate.



Ultrapassada a 24ª e tomado o reduto, o comando francês demorou um turno a reorientar as suas forças. O eixo principal de ataque consistia ainda na cavalaria, que numa manobra circular passou ao largo, e à distância de tiro das baterias, do 4º Corpo de Östermann-Tolstoy. O objectivo da cavalaria francesa era o centro das forças russas concentradas na encosta do planalto. Destruindo esse centro e dividindo o inimigo, Napoleão esperava conseguir abrir a brecha que tanto desejava.


Os planos franceses começaram, contudo, a correr mal assim que a sua cavalaria atacou o 4º Corpo russo e os reforços, entretanto chegados, dos 2º e 3º Corpos de Cavalaria de Korff e Kreutz, constituídos por um Regimento de Couraceiros, quatro de Dragões, dois de Cossacos da Guarda e três de Cossacos, juntamente com duas baterias de artilharia a cavalo.


A infantaria de Tolstoy, na iminência do ataque francês, formou ordeiramente em quadrado e suportou heroicamente o corajoso, mas suicida assalto francês. Entretanto, Tolstoy inteligentemente enviou alguns dos seus batalhões de fuzileiros para o centro do sector, de modo a reforçar os Cossacos de Kreutz que estavam a perder frente ao avanço dos Hussares franceses. De igual modo, deu ordem aos seus Couraceiros, no extremo esquerdo, para se atirarem ao desprotegido flanco direito da cavalaria inimiga, que avançava em escalões.


Foi neste momento que foi decidida a batalha. Em primeiro lugar, parte da cavalaria francesa quebrou os dentes contra os quadrados russos. As unidades ainda intactas foram violentamente sacudidas pelos tiros de metralha da artilharia eslava e não resistiram ao massacre. No centro, o duelo de cavalaria inicialmente correu muito bem para os franceses, que almejaram pôr em fuga dois dos três regimentos de Cossacos de Kreutz. Mas depois foi a vez dos Couraceiros e Dragões russos, que somaram vitória atrás de vitória contra a cavalaria gaulesa, pondo-a em fuga.


Os Couraceiros russos que provinham da esquerda perseguiram e exterminaram uma unidade dos Couraceiros de Caulaincourt que estava em fuga e, seguidamente, lançaram-se numa carga contra uma bateria de artilharia inimiga, a qual foi destruída.


Estas repetidas cargas da cavalaria russa, se bem que arriscadas, permitiram abalar em definitivo o centro da formação francesa e embotar-lhe a sua ponta de lança, pelo que a ofensiva liderada por Eugéne não pôde ter seguimento. Se bem que a sua infantaria no flanco esquerdo estivesse virtualmente intacta, a sua incapacidade em prosseguir a luta no centro e a exposição a que estava sujeito (tanto Latour Maubourg e Caulaincourt como Gérard e Broussier estavam com os respectivos flancos direitos totalmente desprotegidos) ditaram o abandono da ofensiva e, consequentemente, a retirada francesa neste sector da batalha de Borodino.


No final da batalha, Raevsky declarou: "Rapazes, vede como o inimigo foge! A isto é que eu chamo uma Despedida à Francesa!".


Do correspondente

Fillip Martinsky


A cavalaria francesa a carregar sobre os quadrados da 24ª Divisão russa

Na fase decisiva da batalha o glorioso 4ª Corpo resiste ao assalto gaulês

O 4º Corpo de Exército russo

Uma vista geral do campo de batalha com o reduto colocado bem no centro da acção.

N.N. Raevsky